quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Perfumaria no Brasil: Novas possibilidades


Chegamos à liderança em perfumaria mundial. então, agora é a hora de deslancharmos para o estabelecimento de uma perfumaria ainda mais BEM-RESOLVIDA e sofisticada


Agora é para valer: o mercado brasileiro de perfumaria já é o primeiro do mundo em valor, tendo ultrapassado os Estados Unidos nessa posição. Enquanto o faturamento com a venda de fragrâncias em território americano permaneceu na casa dos US$ 5,3 bilhões no ano passado, as receitas no País subiram de US$ 4,5 bilhões em 2009 para US$ 6 bilhões de dólares em 2010, o que representou uma impressionante alta de 33%.





Não se pode dizer que a notícia, divulgada em maio deste ano pelo Euromonitor, tenha sido recebida como uma tremenda surpresa. Afinal de contas, já era sabido que o mercado norte-americano vinha andando de lado há muito tempo, sem conseguir se recuperar totalmente da crise de 2008. Porém, não se pode negar, também, o mérito incontestável da indústria brasileira nessa acirrada disputa pela pole: em parceria com as casas de fragrância, ela já vinha dando sucessivas mostras de vigor e competência ao longo dos últimos anos no sentido de preencher as lacunas de consumo da população brasileira nesse segmento, em especial aquelas abertas pela ininterrupta vertente de crescimento da classe C no cenário demográfico de nosso País.

Porém, como diz aquele velho aforismo oriental, toda conquista traz, também, novas responsabilidades. Em outras palavras, se, agora somos imbatíveis em quantidade, temos que aproveitar essa oportunidade de ouro para alçar voos mais altos em nossa perfumaria.

Conquista para comemorar
Que fique bem claro: a perfumaria brasileira da atualidade tem qualidade, muita qualidade. Natura, O Boticário, L acqua di Fiori, Água de Cheiro, Jequiti e, mais recentemente, Eudora, são alguns dos muitos nomes que estão aí para atestar essa perspectiva. Não é por outro motivo que num período de apenas cinco anos, de 2005 para 2010, o País tenha saltado da terceira para a primeira posição no ranking mundial.

"Sem dúvida, essa é uma conquista que temos para comemorar. Mas vale dizer que ela se deve a uma conjunção de fatores, que vieram a contemplar com sucesso a excelente proposta de trabalho dos profissionais que atuam no segmento de perfumaria no Brasil, os quais estão sintetizados na vigorosa melhoria da nossa economia e no quadro favorável que vivemos atualmente, no qual se destaca o maior acesso aos produtos de perfumaria por parte da classe C, gerando crescimento atrás de crescimento", observa Rodolfo Melo, gerente da categoria de Perfumaria, da Avon Brasil.

"Avalio esse pódio como uma grande conquista da economia brasileira, no contexto da qual o setor de perfumaria, por estar bem preparado, soube aproveitar", complementa Antonin Bartos Filho, CEO da marca Tania Bulhões Perfumes, outra marca que desponta como uma das mais bem equipadas no panorama brasileiro da perfumaria. Ela teve sua origem em 1999, dentro da loja de artigos de decoração Tania Bulhões Home e, em 2007, ganhou sua primeira loja própria, localizada em São Paulo, na Rua Colômbia, no bairro dos Jardins. Com artigos de beleza, bem-estar e essências elaboradas em Grasse, na França, a marca coloca em prática seu plano de expansão, com a inauguração da sua nona loja no shopping Leblon, e mais oito lojas nas cidades de São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília e Salvador.

Janela de oportunidades
Se os motivos da ascensão brasileira à liderança entre os mercados da perfumaria mundial são bem-conhecidos, também é fato que ela conta com um interessante acervo de vantagens a seu favor, como produtos muito bons dentro da perfumaria de masstige, melhores até do que aqueles encontrados nos mercados tidos como desenvolvidos. Só que, agora, tudo "conspira" para irmos além nessa trajetória. Em outras palavras, o próximo estágio aparece como uma verdadeira janela de oportunidade, que podemos aproveitar para conceber produtos com padrão de excelência, custo e branding de distribuição seletiva. E isso, com uma vantagem substancia: não precisamos atrelar essa distribuição exclusivamene ao varejo especializado, uma vez que outros canais, como a venda direta e as franquias, têm longa tradição em perfumaria, e se prestariam muito bem a essa distribuição de produtos premium, mais sofisticados.

As marcas brasileiras de perfumaria têm, efetivamente, produtos com qualidade e preço bem-equacionados. Alguns dos ícones que se alinham com essa proposta são, por exemplo, o Lily Essence e o Zaad, de O Boticário, além do Perfume do Brasil, as fragrâncias masculinas e femininas da linha Essencial, da Natura, todos perfumes com três dígitos de preço.

Mas, mesmo tomando como base esses perfumes, o custo de matéria-prima com o qual as marcas estão trabalhando não está coerente com a proposta das fragrâncias enquadradas no status das seletivas. Do ponto de vista da composição, persiste uma relação de US$/kg abaixo daquela considerada ideal, o que põe a nu o problema da pouca fixação. Outra questão séria nesse âmbito é a da embalagem, segmento que ainda parece "imune" ao ingresso de novas possibilidades em termos de frascos standard mais bem-acabados, tampas mais atraentes e designs diferenciados.

"Não resta dúvida de que as empresas brasileiras já contam, hoje, com acesso ao portfólio mundial da perfumaria. E isso no que diz respeito tanto a matérias-primas, quanto a design, comunicação etc. Quando se fala desse assunto, citar a alta tributação brasileira é chover no molhado. Porém, colocar no mercado um produto de ponta com 42% somente de IPI e ainda ser competitivo é, no mínimo, desafiador", pontua Antonin, da Tania Bulhões. Contudo, ele reconhece: "Aqui na empresa, até pelo nosso posicionamento, já utilizamos uma alta relação US$/kg de essência. Mas ainda há aspectos limitantes, como é o caso dos frascos, setor com poucos fornecedores, poucas opções e grandes exigências de quantidades mínimas, o que inibe a criatividade no design."

Para Marta Oliveira Bagolin, gerente de Marketing do Grupo Wheaton Brasil – empresa que, seguramente, está implícita na relação dos "poucos fornecedores" mencionados por Antonin –, ao ocupar a posição de liderança entre os mercados mundiais de perfumaria, o Brasil está, ao mesmo tempo, diante de uma conquista e um desafio. Conquista, pois é um reconhecimento por tantos anos de atuação, e desafio por ser o primeiro a sempre desejar defender sua posição. "Nesse cenário, temos a economia globalizada, que é um caminho sem volta. Entre seus riscos estão a mundialização dos mercados que tornam as fronteiras políticas mais tênues e, consequentemente, a concorrência mais acirrada. E a competitividade exige melhorias contínuas e estimula o crescimento, a inovação e a tecnologia. Entretanto, o Brasil tem sérios problemas estruturais a resolver", assinala a executiva da Wheaton. De forma mais pontual, defendendo a posição de sua empresa da matéria-prima que ela disponibiliza para o mercado, o vidro, Marta aproveita para dar sua visão sobre a questão dos tais "aspectos limitantes" que ainda inibem o estabelecimento de uma perfumaria genuinamente de prestígio no Brasil: "Em primeiro lugar, é importante distinguir a percepção e o dado de realidade. A qualidade do vidro brasileiro é comparável ao padrão europeu, haja vista a exigência do nosso consumidor e a pujança do mercado local. Por outro lado, também podemos dizer que utilizamos as melhores matérias-primas disponíveis no mercado brasileiro. Mas não podemos nos iludir. O tamanho do bolso dos brasileiros não é o mesmo do tamanho dos países acima da linha do Equador. A diferença entre sucesso e fracasso de um produto passa também a estabelecer esse valor", opina, sem deixar de observar que a Wheaton Brasil é muito flexível e atua em parceria com seus clientes. "Não faz parte da política da Wheaton, por exemplo, a cobrança do molde", faz questão de registrar.

Fronteira invisível
Manter a discussão daquilo que simplesmente cabe ou não no bolso dos brasileiros, entretanto, parece infrutífero quando, na verdade, o que se quer é encontrar soluções para - como já foi dito - aproveitar a janela de oportunidade que se abriu para a perfumaria brasileira fazer incursões ainda mais produtivas daquilo que poderia ser a concretíssima entrada do País na seara da perfumaria de alto prestígio e, por que não, também de alto valor agregado. Em outras palavras, não parece justo relegar a relação entre resposta da indústria e o que ela acredita ser "bom" ou "razoável" para o consumidor brasileiro o papel de vértice da questão. Por muito tempo prevaleceu entre os próprios fabricantes de perfumaria no Brasil a visão distorcida de que, por não ter muito dinheiro, o consumidor brasileiro não "ligava" para perfumes mais elaborados. Era como se existisse uma fronteira invisível entre os nacionais – cheios de arremates minimalistas – e os importados, o padrão ideal, mas até certo ponto "não necessário" de se atingir para se vender fragrâncias no País.

Certamente,a indústria brasileira reviu esse conceito, tangida até pela irrefreável entrada de perfumes estrangeiros no país, o que, aliás, foi muito salutar para a manutenção da competitividade verde e amarela. Entre as empresas que fizeram um excelente trabalho nesse sentido está a Natura, dona hoje de uma perfumaria perfeitamente equiparável àquela das melhores marcas mundiais.

Porém, na média (e sempre nela), nem todos os fabricantes nacionais desses itens se ombrearam a ela. O que levou a Natura para o andar de cima foram investimentos pesados e ininterruptos em fatores que imprimem qualidade a uma fragrância, como conceito, distinção, personalidade e concentração de essências, bem como embalagens de primeira linha. Em outras palavras, arrojo para colocar (muito) dinheiro em inovação verdadeira e não cometer gafes primárias, como vender um perfume sem fixação dentro de um vidro que deixa o recrave da válvula à mostra, como uma paródia de si mesmo ou da proposta de luxo que pretende empurrar goela abaixo do consumidor desavisado, mas nem por isso cego, muitas vezes ao abismo que existe entre tais soluções nacionais canhestras e aquilo que chega todo dia de fora pelas mãos das importadoras.

Foco dos olhares do mundo
Nesse sentido, fala-se muito em entendimento do consumidor e do seu nível de exigência. Porém, quando se continua a cometer os mesmos erros – e não estamos falando aqui só daqueles que inspiram os "me-toos" e os flankers ridiculamente produzidos –, o que se deflui é que alguma coisa não anda cheirando bem na conduta daqueles que, sistematicamente, se ocupam de encharcar o mercado de lançamentos efêmeros, que são colocados nele em períodos cada vez mais curtos só para isso mesmo, serem lançados e serem efêmeros. Tempo, aliás, é "artigo" muito raro quando se fala em maturação da proposta de um perfume no Brasil. Inovação, mesmo quando perseguida com afinco e com responsabilidade, não é algo que aparece de uma hora para outra. Entre outras coisas, isso quer dizer que clássicos da perfumaria não surgem como produto de chuvas de meteoros. Eles precisam de tempo e de investimentos para se consolidar e ir além, muito mais do que os seis meses de praxe que são dados para as criações nacionais para "irem ou racharem" no gosto do consumidor e das (curtas) verbas iniciais para apresentação da nova fragrância ao shopper.

 Isso tudo é válido, mesmo considerando que, reconhecidamente, a perfumaria brasileira prosperou muito mais no masstige do que, propriamente, no mercado de luxo, até porque, como se sabe, o luxo que temos aqui na perfumaria é bem diferente do que se vê lá fora. Mas isso é uma outra discussão, que envolve muito mais o nosso sistema de distribuição do que outra coisa.

Seja como for, algumas barreiras instransponíveis precisam ser transpostas (a cacofonia é proposital) para que não façamos "feio" na posição de líderes (nem no cenário internacional e nem para nós mesmos, é claro), que, até por isso, atraem os olhos de todo mundo para cada um de nossos movimentos. 

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